11/05/2021 às 10h31min - Atualizada em 11/05/2021 às 10h31min

Cinco perguntas para Aliel Machado

Parlamentar fala com exclusividade sobre Governo Bolsonaro, oposição, pandemia, corrida presidencial e desigualdades sociais

Da redação
Foto: Divulgação
Em seu segundo mandato como deputado federal pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), o político de Ponta Grossa (PR) Aliel Machado vem conquistando um papel de destaque no debate público em Brasília. Atualmente ocupando a presidência de duas comissões importantes – a Comissão de Ciência e Tecnologia e a Comissão Especial da PEC de Condenação em Segunda Instância –, o deputado está no olho do furacão de algumas das principais discussões do país. Na entrevista a seguir, concedida com exclusividade ao portal ‘NCG’, o parlamentar fala sobre o Governo Bolsonaro, oposição, pandemia, corrida presidencial e aquela que considera a sua principal bandeira: a luta contra a desigualdade social.

Como o senhor analisa a relação do governo Bolsonaro com o Congresso Nacional hoje e,  principalmente, com a oposição?

Em síntese, dá para dizer que a base de sustentação do governo, hoje, no Congresso, é fisiológica. Ela existe depois de o governo abrir uma negociação pesada com a liberação de recursos, negociando cargos em áreas estratégicas e importantes do governo, e atendendo a pedidos de partidos conhecidos como partidos do centro, o famoso “centrão”. O governo também tem uma base de sustentação ideológica, muito menor, em que eles priorizam o debate de assuntos polêmicos e que não são prioridades para o país, como o ataque a outros países, a negação da ciência, a liberação irrestrita de armas, e assuntos que são mais polêmicos, que fidelizam uma parte ideológica, mas que trazem problemas em relação às prioridades que o Brasil deveria ter.

Com a oposição, o governo tem uma estratégia de confronto. Não é um trabalho sadio, em que ambos tenham um papel importante, tanto o governo quanto a oposição – a oposição com a responsabilidade de apontar os erros, os equívocos, cobrar medidas diferentes. O governo sobrevive, inclusive, desses conflitos, desses atritos. O presidente não tem prudência para fazer esse tipo de situação, e a sua base ideológica gosta muito disso, do conflito. O problema é que isso traz prejuízos para o país. Então, a oposição usa os instrumentos que tem para poder alertar sobre os erros, equívocos, e defender os investimentos prioritários, principalmente durante a pandemia.

Como a oposição analisa e propõe novos trabalhos na área de saúde, nessa segunda onda da COVID-19?

Quando o vírus chegou ao nosso país, nós já tínhamos números alarmantes vindos da Europa. Em vez de o governo usar essa informação para trabalhar na prevenção, preferiu o negacionismo, desdenhou a gravidade da doença, começou a recomendar remédios que não tinham comprovação de eficácia, não atendeu aos protocolos científicos e, o mais grave de tudo, politizou o tema, como se fosse uma disputa eleitoral. A oposição, sabendo da gravidade de tudo isso, denunciou isso dentro do Parlamento, aprovou medidas que o governo não queria, como o auxílio emergencial no valor de R$ 600, medidas para ajudar dentro da economia os setores mais afetados. E também fez a defesa, tanto no Judiciário quanto no Legislativo, de que protocolos científicos precisavam ser respeitados. Mesmo assim o conflito continuou. Nós fomos um dos únicos países do mundo que tiveram sucessivas trocas de ministros da Saúde no meio da pandemia, porque defendiam protocolos científicos. Tudo isso é muito grave.

 
“Quando o vírus chegou ao nosso país, nós já tínhamos números alarmantes vindos da Europa. Em vez de o governo usar essa informação para fazer prevenção, preferiu o negacionismo”

Para se ter uma ideia do que significa o negacionismo e a gravidade dele: no meio da pandemia, o governo zerou impostos para a importação de arma de fogo e aumentou o imposto para a aquisição de oxigênio, e nós entrando na segunda onda. E tudo isso a oposição denunciou, a oposição tomou as medidas cabíveis, mas ainda sofremos as consequências de termos liderando nesse processo alguém que não acredita na gravidade do que está acontecendo e que gosta de politizar o tema.

Outro ponto muito grave é a questão das vacinas. Se tem uma conquista dentro da área da saúde durante toda essa crise, é a vinda da vacina em tempo recorde. Mas no país nós poderíamos ter muito mais pessoas, milhões de pessoas, vacinadas se o governo não tivesse negado a importância da vacina, se o governo não tivesse negado um contrato colocado no ano passado para a aquisição de vacinas. E hoje nós estamos vacinando a conta-gotas. E a cada dia, quanto menos pessoas vacinadas, mais mortes acontecem, e mais impacto na economia nós temos. É muito grave toda essa situação. E o que nos preocupa agora é a possibilidade da terceira onda, com o incentivo à aglomeração, com ainda, infelizmente, a recomendação de medicamentos que não funcionam. Nós criamos um conflito dentro da própria sociedade.

 
“Nós poderíamos ter muito mais pessoas, milhões de pessoas, vacinadas se o governo não tivesse negado a importância da vacina”

É muito importante destacar que não existe disputa ideológica nesse assunto. Não deveria ter oposição e governo. Deveríamos de ter uma união em torno de um objetivo comum: amenizar o impacto, tanto na área econômica quanto na questão de saúde, para preservar a vida das pessoas. E nós continuamos defendendo aquilo que a ciência recomenda, continuamos defendendo vacina no braço e comida no prato, que é o que a população espera.

Existe hoje algum pacto pelo Brasil entre o Governo Federal e a oposição? Como o senhor analisa as últimas mudanças ministeriais realizadas pelo presidente Bolsonaro?

Em qualquer país democrático, oposição e situação ocupam papéis importantes dentro do Parlamento, e nós sabemos que todas as medidas para ajudar a população devem ter o apoio da oposição. Porém, hoje, nós temos um governo que preza pelo conflito e que não dialoga, e não apenas com a oposição, não dialoga com a comunidade científica, faz um enfrentamento contra países que são importantes nos acordos comerciais e também em estratégias para o combate à COVID. Basta olharmos as tratativas sobre a vacina, basta olharmos os posicionamentos que tivemos dentro do Ministério das Relações Exteriores, prejudicando o nosso país em diversos aspectos. Então a oposição cumpre, hoje, um papel importante, denunciando, alertando para os equívocos e ajudando naquilo que ela entende que é positivo para o nosso país. Agora, se tem algo que não existe nesse governo, é o diálogo construtivo. É um governo que preza e sobrevive do conflito.

 
“Se tem algo que não existe no governo Bolsonaro, é o diálogo construtivo. É um governo que preza e sobrevive do conflito”

As mudanças ministeriais realizadas pelo governo no meio da pandemia mostram que, por ter cometido inúmeros equívocos e estar acuado com as investigações, precisou fazer uma grande aliança fisiológica dentro do Parlamento, entregando cargos e espaços para partidos políticos antes atacados pelo próprio governo. Também se destaca a mudança dentro do Ministério da Defesa, com o novo ministro, e também a mudança no comando das Forças Armadas do país. De maneira correta, não politizando o tema, os ex-comandantes das Forças Armadas, principalmente do Exército, se negaram a participar da politização equivocada do governo. Por esse motivo, houve a troca. E, mesmo com a troca, percebemos uma posição correta das Forças Armadas, dizendo que preservam a Constituição e que não entrarão em politização absurda defendida por quem quer que seja. Isso, de certa forma, enfraqueceu a tentativa de ameaça propagada pelo governo, principalmente pelo presidente.

O senhor sempre criticou os extremos nas candidaturas presidenciais. Existe hoje uma candidatura presidencial de centro? Ou que ao menos consiga aglutinar esse pensamento para a campanha eleitoral do ano que vem?

Eu acho um erro, nesse momento, discutirmos sucessão presidencial. Esse é o erro cometido pelo presidente: politizar num momento tão grave como o que estamos passando. Estamos na segunda onda [da COVID-19], com números assustadores, sem vacina para todos os brasileiros e com muitas pessoas com os pratos vazios. Essa discussão precisa ser feita em um momento mais oportuno. E, com certeza, o fato de termos extremos, de termos que escolher entre o menos pior nos levará a uma escolha equivocada. O Brasil merece mais do que isso, mas eu acho que esse tema precisa ser discutido um pouco mais à frente. Particularmente falando, eu defendo internamente, dentro do PSB, que tenhamos uma candidatura própria, um projeto para o nosso país, mas levar esse debate para a sociedade, fazer essa discussão para fora, eu acho que não é o momento.

 
“O fato de termos extremos, de termos que escolher entre o menos pior, nos levará a uma escolha equivocada [nas eleições presidenciais]” 

Quais serão as suas prioridades nos próximos dois anos como deputado federal do Paraná? 

O parlamentar cumpre três funções primordiais. A mais conhecida das pessoas é a função da representação política, a busca por investimentos, por recursos, aprovação de projetos para os municípios dos quais o deputado tem uma representação. O nosso mandato tem feito isso, conquistamos recursos importantíssimos, inclusive para o combate à pandemia. Nós poderíamos citar aqui milhões e milhões de reais conquistados para a nossa cidade e toda a região. Mas o deputado tem outras duas funções que não são menos importantes. Uma é a questão da fiscalização, é a questão de observar os erros cometidos pelo governo, alertar para que esses erros sejam corrigidos, propor ideias e leis para que se avance em medidas que beneficiem a população. E a terceira função, que para mim é a mais importante de tudo isso, é o posicionamento político em temas centrais. E aí você não vai agradar a todo mundo, porque você age de acordo com a sua representação, com a sua história, e eu não tenho dúvida nenhuma de que a minha principal função continuará sendo nesses dois anos a luta contra as desigualdades sociais. 

 
“Além da pandemia, o maior problema do nosso país, hoje, continua sendo a desigualdade social”

Além da pandemia, o maior problema do nosso país, hoje, continua sendo a desigualdade social. Nós temos um país que penaliza as pessoas mais simples, nós temos um país que não cobra impostos dos ricos, nós temos um país que penaliza o pequeno e o médio empresário que quer gerar emprego, e não podemos aceitar isso. Um país rico, um país que tem recursos, e que ainda tem milhões de brasileiros passando fome… Esse é o tema central, na minha opinião, dentro da discussão da reforma tributária, que para mim é a principal de todas as reformas. Ela pode ser positiva ou negativa, mas precisa ter uma concentração de trabalho por parte de todos os parlamentares. E fica aqui o meu compromisso, uma priorização nesses dois anos de mandato. Continuaremos trazendo recursos, investimentos, continuaremos lutando para aprovar medidas de combate a privilégios, aprovar medidas importantes lá em Brasília, através das leis que nós protocolamos, mas, principalmente, a nossa luta contra a desigualdade social.
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