24/05/2021 às 14h16min - Atualizada em 24/05/2021 às 14h16min

Cinco perguntas para Luis Flávio de Moraes Barros

Empresário fala sobre o governo Elizabeth Schmidt, eleições presidenciais de 2022, ambiente de negócios no Brasil, desilusão com Jair Bolsonaro, participação de empresários no debate político e indenização paga pela Prefeitura à VCG

Da redação
Foto: Divulgação
Engenheiro civil e empreendedor de destaque em Ponta Grossa, Luis Flávio de Moraes Barros é responsável por grandes empreendimentos do setor, incluindo obras imponentes espalhadas por todo o município. Proprietário da construtora LF22, que atua no mercado há mais de 40 anos, ele não abre mão de participar do debate político e de apoiar os candidatos que lhe inspiram confiança e credibilidade. Contente com a eleição de Elizabeth Schmidt (PSD) à Prefeitura de Ponta Grossa, mas decepcionado com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a quem apoiou nas eleições presidenciais de 2018, Barros fala sobre o governo municipal, as eleições de 2022, o ambiente de negócios no Brasil, a desilusão com Jair Bolsonaro (sem partido), a participação de empresários no debate político e a indenização de R$ 1,7 milhão paga pela Prefeitura à Viação Campos Gerais (VCG).

Você é um empresário muito participativo em todas as eleições, sejam municipais, estaduais ou federais. Como você analisa as últimas eleições em Ponta Grossa? E qual é a sua avaliação desses 150 dias do governo Elizabeth Schmidt?

Gostei que a Elizabeth tenha se elegido. Nós tivemos oito anos de um governo excelente do [ex-prefeito] Marcelo Rangel, no qual muito foi feito por Ponta Grossa. Ando pela cidade até hoje e vejo muita pavimentação, entre outras benfeitorias realizadas nos dois mandatos, que eu não conhecia. É difícil você suceder um governo muito bom, mas acho que ela está indo muito bem. Está enfrentando a COVID-19 de uma forma muito forte. Não concordei muito com o ‘lockdown’, mas concordo com as medidas de segurança tomadas.

 
“É difícil você suceder um governo muito bom, mas acho que a prefeita Elizabeth está indo muito bem. Está enfrentando a COVID-19 de uma forma muito forte”

O que tenho acompanhado e gosto muito é a negociação para trazer a Escola de Sargentos das Armas à cidade. Acho importantíssimo. Vai dar um salto, pois serão, no mínimo, oito mil pessoas a mais em Ponta Grossa. São pessoas de um bom poder aquisitivo. Em termos sociais, será melhor do que as indústrias, pela distribuição de renda que circulará em nosso comércio. A indústria te devolve em imposto, que vai direto para a Prefeitura, já a renda das pessoas é diretamente injetada no comércio, o que é muito importante, principalmente numa situação pós-COVID.

Nós vamos ter que trabalhar muito, acredito que uns cinco anos, para chegar ao PIB [Produto Interno Bruto] que era antes da pandemia e recuperar as inúmeras pessoas que perderam os seus negócios. Infelizmente é um grande preço que vamos pagar.

Em sua opinião, existe espaço para uma terceira via nas próximas eleições presidenciais? Ou as eleições de 2022 estão realmente consolidadas, desde já, entre Bolsonaro e Lula? Se existe essa terceira via, quem seria, na sua visão? 

Tenho grande esperança que exista uma terceira via e até enxergo isso. As pessoas sabem que trabalhamos muito para o Bolsonaro, porque queríamos que o PT não se reelegesse. Era uma quadrilha agindo em favor deles. Como dizia o nosso nefasto Gilmar Mendes [ministro do Supremo Tribunal Federal], eles teriam dinheiro para uma campanha de 20 a 30 anos, de tanto que roubaram da população. É uma pena que eu só tivesse olhos de acabar com isso e acreditasse no que o Bolsonaro passava, que ele era a favor da Lava Jato, de ser um liberal e de acabar com as vantagens dos que se aproveitavam do Estado brasileiro. Me senti muito enganado por ter acreditado, até que vi um grande empresário de São Paulo falar o mesmo, que ele acreditou e errou. 

 
“É uma pena que eu só tivesse olhos de tirar o PT de cena e acreditasse no que o Bolsonaro passava, que ele era a favor da Lava Jato, de ser um liberal e de acabar com as vantagens”

Mas eu enxergo uma terceira via. Não sei se é possível, mas seria o meu sonho de consumo ver duas pessoas de que gosto muito: Sérgio Moro [ex-ministro da Justiça e Segurança Pública] e Amoedo [João Amoedo, presidenciável, fundador do partido Novo]. Eu acharia ótima essa dupla, e, 90 ou 180 dias antes, que fizessem uma pesquisa para ver quem está em primeiro lugar, para saber quem seria o candidato a presidente e o vice. Assim não correríamos risco, como já corremos, como quando o Tancredo Neves se elegeu e tivemos o Sarney como presidente. 
 
“Não consigo imaginar o quanto de dinheiro os acusados ofereceram para Sérgio Moro e o quanto ameaçaram a família dele, e ele nunca se vergou”

No caso de Sérgio Moro, não consigo imaginar o quanto de dinheiro os acusados ofereceram para ele e o quanto ameaçaram a família dele, e ele nunca se vergou. Acredito nele, porque deve ter recebido inúmeras propostas maravilhosas que daria até para os tataranetos dele viverem como reis, e ele nunca aceitou. Nunca me esqueço de ter visto ele com a sacola de plástico com a marmita dentro. Quando eu vi aquilo, eu pensei: “Esse homem é incorruptível”. A gente vê em Brasília pessoas comendo lagosta, tomando vinho de R$ 5 mil. São homens que se vergam aos pequenos prazeres da vida, e Sérgio Moro, não. É um homem que está a serviço de uma nação, de um ideal, enfim um grande estoico. Então, vejo dois grandes nomes, seja quem estiver na cabeça da chapa. O Amoedo é um grande liberal. Se eles estiverem lá, terão todo o meu apoio, meu tempo, meu trabalho e o que eu puder dispor de recursos.
 
“Deveriam acabar com todas as estatais e ter uma Lei proibindo fazer estatal. O Brasil teria um crescimento maravilhoso”

Agora, o que eu considero mais importante na próxima eleição são os deputados. Precisamos de bons parlamentares que lutem pelo bem do Brasil e pela sociedade. Deveriam acabar com todas as estatais e ter uma Lei proibindo fazer estatal. O Brasil teria um crescimento maravilhoso. Eu penso assim: se a gente estipulasse uns 20 itens, que incluíssem simplificar impostos, reforma tributária, eleitoral, principalmente prisão em segunda instância e foro privilegiado para apenas três ou quatro pessoas, como acontece em países desenvolvidos, nós teríamos outro país. Vamos votar somente em deputados federais que assinem em cartório que eles votarão nesses itens. Quando eles assumirem, podemos fazer todas as reformas que o Brasil precisa em 60 dias. Não fazemos porque existem interesses. Nós temos que acabar com isso. Seria um sonho de consumo. Não sei se é possível, mas, se tivéssemos um bom presidente e excelentes deputados federais e senadores, teríamos, na economia, um crescimento chinês por vários anos. Que esses eleitos não vão lá se servir do Brasil, e, sim, para servir o Brasil.

Como você avalia o ambiente de negócios do Brasil durante o governo Bolsonaro? Em comparação com governos anteriores, ficou um pouco mais “fácil” ser empresário no Brasil ou continua sendo difícil? Quais são, para você, os maiores desafios enfrentados pelos empresários atualmente?

Eu esperava muito do governo Bolsonaro. No ambiente empresarial, eu vi pouquíssimas conquistas. Nada de relevante. Ele fez muito mal de intervir na Petrobras e nomear outro presidente, falando que ia mexer em preço. Nós ficamos mais pobres um pouco. O dólar subiu 30 ou 35 % desde que ele assumiu. Não estou defendendo o PT, pois não gosto do PT. Do Paulo Guedes, eu gosto um pouco, mas o Bolsonaro, infelizmente, foi um desserviço para o nosso país. Eu preferia um impeachment e estar com o Mourão. Eu ficaria mais tranquilo com o futuro. Não com o meu futuro, mas penso no futuro dos meus filhos, dos meus netos e das crianças de todo o Brasil.

 
“Em vez de trabalhar para o progresso do nosso país, Bolsonaro fica inventando asneiras o tempo todo. Não vi nada do que eu apostei que veria nesse governo”

Bolsonaro coloca essas frases horríveis e absurdas, a todo instante, como ser contra a vacina e tantas outras bobagens, difíceis de sair da boca até mesmo de pessoas com pouca instrução. Em vez de trabalhar diuturnamente para o progresso do nosso país, fica inventando asneiras o tempo todo. Não vi nada do que eu apostei que veria nesse governo.

No dia que o Supremo deu liberdade para o [ex-presidente] Lula, e hoje estamos ouvindo que talvez seja devolvido dinheiro para a Odebrecht e para todos os condenados, talvez tenha sido o dia mais triste da minha vida. Ver que o nosso país cresceu e fez um voo de galinha contra a corrupção. Está ensinando aos jovens que ser corrupto e roubar é bom, que alguns ministros do Supremo comemoram quando inocentam as pessoas que roubam. A gente vê pessoas dando risada e sorrindo disso. Não sei em que mundo eu vivo, pois esse, infelizmente, não é o Brasil que eu sonhei para a posteridade.

Você acredita que empresários devem se posicionar politicamente e ideologicamente sobre questões polêmicas do dia a dia? Do ponto de vista empresarial, é algo que vale a pena?

Eu sei que me posicionar só me trouxe problemas na vida, mas eu não sei ser duas pessoas: empresa e cidadão. No entanto, quando você se posiciona a favor de alguém, o outro é contra você. Mas, não me arrependo, e viveria essa situação do mesmo jeito. Acho que temos que sempre estar colocando o que pensamos, como deve ser a vida, ser transparente e viver o que acreditamos. Foi uma coisa que eu sempre fiz.

Como empresário e defensor de uma economia capitalista, como você avalia a indenização de R$ 1,7 milhão que a Prefeitura destinou a fundo perdido para a Viação Campos Gerais (VCG)? Você acredita que isso possa trazer alguma consequência negativa no futuro?

Acredito que, se você tem uma concessão, você tem direito de que os ônibus, nos quais você investiu, estejam liberados para o público. Se o público não utilizar o serviço, tudo bem, é um risco da concessão. Agora, no momento que você é proibido de colocar a sua frota na rua, o Estado está te dando um prejuízo. Eu entendo que a VCG tem direito à indenização. Vendo pelo lado da Elizabeth, é complicadíssimo, pois qualquer inimigo político dela pode dizer que isso é uma pedalada para querer ir atrás dela, para tirar o mandato e até o seu patrimônio, o que é um absurdo.

 
“No momento que você é proibido de colocar a sua frota na rua, o Estado está te dando um prejuízo. Eu entendo que a VCG tem direito à indenização”

Não sou doutor em política nem advogado. De uma forma muito primária, eu diria que a melhor decisão seria na Justiça, a qual estipularia o prejuízo que a VCG teve e, através de peritos, quantificaria o montante a ser indenizado. Assim, o juiz sentenciaria, tirando a responsabilidade da Elizabeth sobre essa decisão, e o que a Justiça determina a gente não discute, e, sim, cumpre.
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