28/05/2021 às 14h21min - Atualizada em 28/05/2021 às 14h21min

Professores de PG divulgam carta aberta pedindo vacinação da categoria; leia

Mensagem também denuncia as condições de trabalho durante a pandemia: "O que a Prefeitura mostra não reflete a realidade"

Da redação
Foto (ilustrativa): Agência Brasil
Um grupo de professores da rede municipal de ensino de Ponta Grossa divulgou uma carta aberta, na manhã desta sexta-feira (28), para denunciar as condições em que se obrigaram a trabalhar na pandemia da COVID-19 e para pedir que as aulas presenciais só retornem no município após todos os profissionais da educação serem vacinados contra a doença. O documento é endereçado à prefeita Elizabeth Schmidt, à Câmara Municipal, ao Sindicato dos Servidores Públicos Municipais (Sindserv) e à sociedade ponta-grossense como um todo.

“Essa carta aberta tem por objetivo apresentar para a população ponta-grossense a realidade vivenciada nas escolas municipais e nos CMEIs [Centros Municipais de Educação Infantil], pois o que está sendo mostrado pela Prefeitura não reflete a realidade. A verdade está escapando por entre os dedos do poder público por meio dos surtos e da perda de trabalhadores para esse vírus”, explicam os professores nos primeiros parágrafos da mensagem. 

Na última terça-feira (25), os CMEIs Petrônio Fernal (vila Ferroviária), José Santana (bairro Chapada) e Odysséa de Oliveira Hilgenberg (avenida Ana Rita) foram interditados após apresentarem suspeitas de surto de COVID-19. No dia seguinte, quarta-feira (26), as aulas presenciais nas escolas Zanoni Rogoski (foto), na vila Rubini, e Professor Plácido Cardon, no bairro da Ronda, foram temporariamente suspensas pelo mesmo motivo. 

Sobrecarga 

A carta lista sete exemplos de como os professores, na visão dos autores, estão trabalhando em péssimas condições em meio a um cenário de perigo por conta da pandemia do novo Coronavírus (leia a carta na íntegra ao fim da matéria). Após elencar as dificuldades enfrentadas pelos docentes, os autores afirmam que têm consciência de que o vírus não é produzido nas escolas, mas ressaltam que é “através da grande circulação de pessoas nelas que o vírus é disseminado e pode contaminar uma comunidade inteira rapidamente”. “Os casos de surtos em CMEIs e escolas mostram como o vírus se espalha rápido e de forma incontrolável”, argumentam. 

À reportagem do portal ‘NCG’, os responsáveis pela carta, que preferem não se identificar, também informam que já protocolaram uma denúncia no Ministério Público do Trabalho (MPT) referente às condições em que os professores estão trabalhando na pandemia. 

Direito de viver 

Descrevendo-se como “um grupo de profissionais da educação, mas, antes de tudo, de pessoas”, os autores da carta mencionam, já ao final, que “juntaram forças para lutar pelo direito de viver, ter esperança e, principalmente, de trabalhar com segurança nesse cenário pandêmico”. “O principal objetivo desta carta é zelar pela saúde da comunidade escolar, sejam professores, serventes, merendeiras, escriturários, equipes gestoras, assistentes de educação, estagiários, alunos e familiares”, completa. 

Confira a carta na íntegra: 

CARTA ABERTA À
EXMA SRA PREFEITA ELIZABETH SCHMIDT
CÂMARA DOS VEREADORES DE PONTA GROSSA
SINDICATO DOS SERVIDORES PÚBLICOS DE PONTA GROSSA
SOCIEDADE PONTA-GROSSENSE

Desde meados de 2020 o mundo vivencia uma experiência sem precedentes que vem vitimando cidadãos de todas as classes e idades. O uso de máscaras, a higiene constante das mãos com água e sabão ou álcool em gel, o isolamento social são as principais formas de combate à COVID-19 segundo a OMS. O momento exige de todos RESPONSABILIDADE, pois decisões inconsequentes têm custado vidas.

Em meio a isso, os professores também tiveram sua rotina de trabalho revirada por causa da pandemia de COVID-19. Foi necessário levar a escola para dentro de suas casas, sem suporte algum, tendo que usar seus equipamentos e internet pessoal para atender os alunos de forma remota e garantir um mínimo de aprendizagem.

Essa carta aberta tem por objetivo apresentar para a população ponta-grossense a realidade vivenciada nas Escolas Municipais e nos CMEIs, pois o que está sendo mostrado pela prefeitura não reflete a realidade. A verdade está escapando por entre os dedos do poder público por meio dos surtos e da perda de trabalhadores para esse vírus.

Quem está preocupado com a saúde e a vida dos trabalhadores da educação? O Sindicato? Que com palavras bonitas, pela primeira vez na história defende o outro lado da moeda? Os vereadores? Que não fiscalizam o cumprimento do protocolo de biossegurança estabelecido? Que não garantem que as escolas com casos suspeitos e/ou confirmados fechem para que não haja o contágio?

Nos dirigimos à Excelentíssima Senhora Prefeita Elizabeth Schmidt, aos Senhores Vereadores, ao Sindicato dos Servidores Públicos de Ponta Grossa e à sociedade ponta-grossense, para afirmarmos que:

1. Desde o primeiro dia de fechamento das escolas devido a pandemia os professores tiveram a sua jornada de trabalho duplicada para atender os alunos no Ensino Remoto.

2. O Ensino Remoto da Rede Municipal de Educação de Ponta Grossa só está acontecendo porque os/as professores/as estão:

a) Atendendo alunos e pais de alunos em seu número de telefone pessoal;

b) Fazendo atendimento fora do seu horário de trabalho, inclusive sendo solicitados durante os finais de semana;

c) Utilizando seus equipamentos e internet pessoal para dar suporte ao Ensino Remoto;

d) Mantendo em dia a documentação dos alunos, que com esse modelo aumentou em planilhas, fichas e tabelas;

e) Participando de todas as reuniões online solicitadas;

f) Fazendo vídeos, áudios e vídeos-chamada para dar reforço e suporte para os alunos na execução das atividades;

g) Realizando aulas ao vivo por plataformas virtuais como Meet e/ou Zoom regularmente, sem ter recebido formação para isso; 

3. A educação não está parada, são as escolas que estão fechadas por razões de saúde pública.

4. O comprometimento dos alunos acompanharem às aulas do Programa Vem Aprender pela TV Educativa canal 58.1, ou pelo YouTube é de responsabilidade da família, como previsto no Artigo 205 da Constituição Federal (1988) Art. 205: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

5. A escola não pode ser para a sociedade apenas um lugar alternativo para os pais deixarem os seus filhos, um lugar para se alimentar e se esquivar de situações de risco. Para esta finalidade existem os serviços públicos criados para prestarem a devida assistência social e garantir políticas públicas eficazes. É necessário garantir que a função social da escola de ensino-aprendizagem seja realidade, e para isso é necessário uma parceria mais ampla entre os cidadãos, Fundação de Assistência Social, Vara de Infância e o Conselho Tutelar.

6. Não é culpa dos professores a existência do vírus e a irresponsabilidade da sociedade em proporcionar a sua disseminação;

7. A educação de qualidade não se dá através de um decreto afirmando que ela é “essencial”, é preciso investimentos em infraestrutura, formação continuada, tecnologia e aperfeiçoamento, não pode ser depositada sobre os ombros dos professores como tem acontecido. É necessário a contratação de professores e funcionários em quantidade adequada para o funcionamento da escola e CMEI, pois professores, serventes, merendeiras e demais profissionais da educação estão sobrecarregados tentando suprir a falta de trabalhadores.

Tendo isso sido esclarecido, apontamos também que temos consciência que a escola não produz o vírus, mas é através da grande circulação de pessoas nela que o vírus é disseminado e pode contaminar uma comunidade inteira rapidamente. Os casos de surtos em CMEIs e, posteriormente, em escolas mostram como o vírus se espalha rápido e de forma incontrolável.

Somos um grupo de profissionais da educação, mas antes de tudo de pessoas, que por meio do diálogo juntamos força para lutar pelo direito de viver, ter esperança e principalmente de trabalhar com segurança, nesse cenário pandêmico. O principal objetivo desta carta é zelar pela saúde da comunidade escolar, sejam professores, serventes, merendeiras, escriturários, equipes gestoras, assistentes de educação, estagiários, alunos e seus familiares.

Não se trata de “QUERER APARECER”, pois, se fosse assim, seria feito uma live no YouTube, com voz passiva e mansa, e falar o que “os outros querem ouvir”.

Dito isso, a classe de educadores exige RESPEITO AO SEU TRABALHO E À SUA VIDA: o retorno presencial das aulas deve acontecer somente após a VACINAÇÃO DE TODOS/AS OS/AS PROFESSORES/AS E FUNCIONÁRIOS/AS DA EDUCAÇÃO!

Ponta Grossa, 28 de Maio de 2021

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