19/08/2021 às 11h17min - Atualizada em 19/08/2021 às 11h17min
Cinco perguntas para José Loureiro
Secretário fala sobre o impacto da pandemia no comércio local, industrialização, licitação do novo Mercado Municipal, emprego e novos investimentos
Da redação
Foto: Divulgação
José Carlos Loureiro Neto tem uma vida dedicada ao comércio e ao desenvolvimento de Ponta Grossa e região. Empresário há mais de 30 anos, Loureiro foi diretor da Associação Comercial, Industrial e Empresarial de Ponta Grossa (ACIPG), é o atual presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Ponta Grossa (Sindilojas), ocupa a vice-presidência da Câmara de Mediação e Arbitragem da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Paraná (Fecomércio-PR), e, em 2019, foi empossado como secretário municipal de Indústria, Comércio e Qualificação Profissional. Na entrevista a seguir, Loureiro fala sobre o impacto da pandemia no comércio local, a licitação do novo Mercado Municipal, industrialização, emprego e novos investimentos.
A pandemia afetou a economia em Ponta Grossa, impactando empresas e causando desempregos. Vocês têm os números reais do prejuízo? O que Ponta Grossa tem feito para reduzir o desemprego e alavancar a economia? E como deve ser a retomada econômica na cidade?
Sabemos dos impactos que a pandemia causou em diversos setores da economia, e em Ponta Grossa não foi diferente, mas também sabemos que alguns setores industriais não pararam as suas produções e tiveram que aumentar as suas frentes de trabalho. Um dos exemplos de nossa cidade foi a indústria Chesiquímica na produção de álcool em gel, entre outras de sucesso. Não temos como mensurar o prejuízo, pois cada setor, cada empresa, enfrentou as suas dificuldades, e, como cada segmento se reinventou nesse período, vimos o quanto o nosso empresariado é empreendedor e inovador. Vimos aumentar a demanda de motoboys em Ponta Grossa e uma onda incrível de delivery, que tomou conta da nossa sociedade.
Tendo em vista que estamos diminuindo o número de infectados pela COVID-19, aos poucos vamos voltando à normalidade. O nosso comércio abraçou todas as campanhas que fizemos para evitar outros ‘lockdowns’, e até testagem rápida em nossos colaboradores foram realizadas, aumentando a confiabilidade da empresa e, assim, atendendo a todas as orientações contra a COVID.
De modo geral, Ponta Grossa tem reagido de forma positiva. Ocorreram ações do município, do estado e da União para reduzir os efeitos da pandemia na economia e resguardar empregos. A retomada da economia será gradativa e setorizada. O setor público fará o seu papel no que diz respeito à geração de emprego e renda. Exemplos estamos dando. Veja os investimentos que foram anunciados em nossa cidade. Vieram supermercados para Ponta Grossa, indústrias aumentaram os seus investimentos, o setor produtivo está em alta no nosso município e estamos anunciando a vinda da maltaria para aquecer a indústria cervejeira. Hoje podemos dizer, sem medo, que Ponta Grossa é a capital da cerveja.
Como está a situação do Distrito Industrial Norte? Já existem indústrias confirmadas para aquela região? Como fazer este processo de industrialização acontecer?
Na região norte da cidade, já temos, sim, projetos que consolidam a Zona Industrial Norte, como, por exemplo, o da montadora de caminhões DAF, que hoje está produzindo mais de 40 caminhões ao mês, qualificando-se como a quinta montadora de caminhões do Brasil. Também temos o laticínio da Cooperativa Frísia, que é um projeto pioneiro naquela região. E, ainda este ano, consolidando aquela região como industrial, teremos o início das obras da Maltaria Campos Gerais e da queijaria da cooperativa Frísia. A maltaria, por exemplo, fará na primeira fase investimentos de R$ 1,500 bilhão e mais o mesmo valor em uma segunda fase, até 2032. Quanto aos empregos, na primeira fase serão ofertados 3.100 empregos diretos e, na segunda fase, mais 3.050 empregos diretos.
Portanto, o processo de industrialização naquela região já está acontecendo. Somando-se à evolução do setor no Distrito Industrial Prefeito Cyro Martins, com os novos investimentos já anunciados, bem como com as ampliações confirmadas, Ponta Grossa garante a condição de sediar o maior polo industrial do interior do Paraná e de ser uma das cidades com uma das maiores arrecadações de ICMS [Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços] industrial do estado.
Como está o andamento do edital de licitação para um novo projeto do Mercado Municipal? O que deve conter nesse edital? Como estão as tratativas com a Tekla Engenharia, que foi multada em R$ 12 milhões por não ter cumprido com o previsto em contrato? Por que, enfim, o Mercado Municipal até hoje não saiu do papel?
A primeira etapa, que era o distrato da concessão com a Tekla Engenharia, já foi executada no final do ano passado. Em seguida, foi estudada qual seria a forma de retomar o projeto do novo Mercado. Assim, foram realizados os estudos iniciais sobre o que o Mercado Municipal deveria ter, lojas e estacionamento condizentes às necessidades da comunidade ponta-grossense. Na sequência, foi acatada a ideia de promover um concurso para a escolha do melhor anteprojeto que atendesse às necessidades atuais. O edital do concurso já foi lançado e está em andamento, cumprindo os trâmites de prazos legais. Ao ser concluída essa fase, será lançada a segunda fase, sendo a de concessão, quando se elaboram os projetos básicos e executivos, e estes também têm prazo para efetivação. Somente após o projeto executivo estar aprovado pelo município, será dada Ordem de Serviço para a execução das obras. No edital de licitação da concessão constarão todas as necessidades para que o empreendimento tenha funcionalidade, conforto e segurança para os comerciantes e os clientes.
Em face ao ocorrido na licitação anterior, em que a empresa não cumpriu com o que havia sido acordado no contrato de concessão, o município adotará medidas mais rigorosas quanto à qualificação dos concorrentes, com maiores exigências quanto às garantias que deverão ser implantadas antes de qualquer iniciativa no canteiro de obra.
Em relação à Tekla Engenharia, o procedimento adotado foi de notificar a empresa pelo não cumprimento das cláusulas contratuais, publicar o distrato do contrato de concessão no Diário Oficial, encaminhar o processo de aplicação de penalidades à empresa pelo descumprimento do contrato, e enviar ao setor competente do município para inscrição em dívida ativa municipal e posterior execução dessa dívida. O procedimento de cobrança de dívida ativa se processa em fase administrativa, que é quando o devedor e o credor promovem acordo para a quitação. Caso não haja acordo, entra-se em outra fase, da cobrança por via judicial.
Mesmo com a alta nos desempregos, a Agência do Trabalhador parece que tem divulgado constantemente as mesmas vagas. Isto é resultado da falta qualificação? Quais são os setores com mais dificuldades nas colocações e quais estão contratando mais?
Discordamos dessa afirmativa. Temos algumas situações especiais, em vagas mais específicas, que demoram um pouco para ser preenchidas. Não divulgamos as mesmas vagas constantemente, e, sim, novas vagas em diversas empresas são anunciadas. Agora, claro que as vagas podem ser anunciadas por mais de uma vez, pois continuam sendo oferecidas enquanto o empregador não encontra o perfil ideal para a contratação, ficando essa vaga aberta em torno de sete dias, ou até que o número de trabalhadores solicitados seja encaminhado ao empregador, ou até que o empregador faça a contratação e realize o comunicado do preenchimento da vaga.
São vários os motivos para o não preenchimento das vagas de emprego, como falta de qualificação do trabalhador; diminuição no grau de escolaridade dos trabalhadores e a dificuldade de convencê-los de que precisam retomar os estudos para facilitar a sua busca e permanência no mercado de trabalho; rigidez nas exigências por parte de alguns empregadores; não aceitação, por parte dos trabalhadores, das condições oferecidas pelos empregadores; dificuldade de alguns empregadores em entender a importância e fornecer os resultados dos processos de seleção realizados através do Sine [Sistema Nacional de Emprego].
Em sua rotina de trabalho, a equipe tenta fazer o empregador flexibilizar algumas de suas exigências quanto ao perfil que o trabalhador deverá apresentar. Além disso, temos uma equipe constantemente instruída no sentido de direcionar o trabalhador para as vagas mais próximas do seu perfil profissional, evitando ao máximo que seja gerada uma falsa expectativa de ingresso ou retorno ao mercado de trabalho.
Em relação aos segmentos que mais contratam, temos, com pouco mais de 40%, o setor de serviços, o que mais oferece vagas de emprego, e também o que mais contrata, com o mesmo percentual. Em torno de 15% a 20%, temos os setores da indústria, comércio e construção civil.
Em abril deste ano, foi confirmada a instalação da Havan em Ponta Grossa. E, no início do ano, a cidade estava em negociações com a Nissin Foods para a instalação de uma fábrica. Como estão essas negociações?
A atração de novos investimentos industriais exige sempre longas negociações, pois há vários setores envolvidos, que vão desde a estrutura da cidade até a qualificação da mão de obra. Por isso, muitas vezes, esse período se prolonga, principalmente quando os investidores exigem o chamado Termo de Confidencialidade, que é quando ambas as partes, empresa e município, ficam impedidas de fornecer detalhes do investimento, visando o segredo empresarial. Considerando esse importante item do segredo, podemos garantir que novidades virão por aí, sim. Quando tudo estiver definido, faremos a divulgação oficial.